quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Rodeada de ninguém

Uma das coisas que mais me impressionaram quando comecei a morar em Portugal, foi a solidão com a qual somos abalroados.

Eu até gosto de estar sozinha, bem ao contrário das minhas irmãs, por exemplo, que não saíam da casa dos outros e os outros, por causa delas, não saiam da nossa. Percebem? De modo que eu estava sempre rodeada de gente. Para além do mais a minha família é grande.

Aqui me sinto tão isolada, como nunca me tinha sentindo antes. No começo não me incomodava, mas agora incomoda e magoa muito. Eu e meu marido não temos com quem contar. Estive doente de cama e passei dias na completa solidão, se fosse no Brasil tenho certeza que ia viver rodeada de pessoas, dos mimos da minha família e amigos.

Mas o que me magoou e magoa mais é a situação do meu cão. Passa 12 horas sozinho em casa à nossa espera. Eu tento dar-lhe todo o conforto possível: deixo uma manta ao pé da janela que está voltada para a rua; deixo o "snack" preferido dele; mais mantas espalhadas pela casa; comida e brinquedos. Semana passada teve que ser operado para a retirada de um tumor na pata e eu nem sequer pude ficar com ele no dia seguinte e nem tive quem dessem uma vista de olhos. Ninguém! Ninguém! Passei o dia com o coração apertado contando as horas para ir para a casa, e não tive ninguém que fosse a minha casa ver como ele estava.

Como posso ter um filho nestas condições? Rodeada de ninguém com possa contar. Mas é rodeada de ninguém que vou ás compras alimentar a minha vaidade, natural nas mulheres. Rodeada de ninguém que fazia as minhas caminhadas ao fim do dia em buscar de perder peso. Rodeada de ninguém!

Não é de se espantar que se morre completamente só na Europa. De vez em quando se encontra corpos de idosos mortos em estado de decomposição, em uma casa trancada. E se eu não for embora daqui este será o meu destino: morrer rodeada de ninguém.

3 comentários:

  1. Oi Drika, vim retribuir sua visita e li alguns posts. Entao vc mora em Portugal... to ha mt tempo querendo conhecer.

    Senti que vc anda meio tristinha ne? Oxi menina, fique assim nao. Qd decidimos sair do Brasil temos que estar certos de nossas prioridades, e o jeito é encarar as dificuldades que surgem. Aqui é igualzinho e talvez ainda pior, o alemao é mt fechado!

    E olha, como dica, se quiserem ter filhos, mesmo, tenham, nao pense nessas coisas. Um filho te ajudará nessa questao da solidao, alem de ser uma companhia maravilhosa, vc precisará participar de mts outras coisas com ele, isso abrirá teu leque de amizades. Mas é claro, saiba que ajuda no comeco, vc nao terá...

    sinto mt pelo cachorrinho, tomara que ele ja esteja melhor.

    Um beijo

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    1. Obrigada pelo carinho Nina. O meu cachorrinho já está melhor graças à Deus, a fase ruim já passou.

      Eu sei que vou me arrepender se deixar passar o tempo e não tiver um filho, tenho a certeza disso, mas tenho tanto medo de dar esse passo... E não tenho ninguém que me incentive a dá-lo.

      Mas vai chegar o tempo limite e vou ter que me empurrar para dar esse passo, não quero me arrepender de não fazer e não poder voltar atrás.

      Sou fiel seguidora do teu blog e adoro-o mesmo! Nem sempre posso comentar, porque muitas vezes vejo de "fugida" lá da prisão(trabalho). :)

      Beijinhos.

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  2. Por um acaso achei esse seu blog no outro, o Brasil com Z e vi q vc mora em Portugal, como eu! Moro no Algarve. Esse teu post me chamou atenção, já passei algumas situações aqui e tb não tive ninguém pra ajudar e ainda por cima com meu filho de 2 anos!
    O inverno aqui foi horroroso, não sei qto gastei de xarope. Meu filho desde setembro tem tosse, febre q vai e volta... já ficou internado por causa de convulsões 2 vezes por febre alta. Ainda tive ajuda dos parentes do meu marido, q trabalha fora daqui, mas ainda assim, se meu filho não está doente, ficam dias sem entrar em contato pra saber se estamos vivos...
    O primeiro dia do ano meu filho teve a grande idéia de nos trancar do lado de fora da varanda... ficamos 3 horas do lado de fora, gritei, chamei algumas poucas pessoas q passavam pela rua e simplesmente me ignoravam, quem nos salvou foi um policial q por um acaso passou em frente a minha varanda e foi chamar a madastra do meu marido, q mora no mesmo prédio, pra nos ajudar.
    E pra completar, apesar de inúmeros currículos enviados, estou desempregada! Uma vez mandei meia dúzia de currículos para o Brasil e em 24 horas obtive 3 respostas para entrevistas...
    Esse mês compro minhas passagens e volto mês q vem, minha família mora em Volta Redonda/RJ, fica longe de grandes centros e ainda tem qualidade de vida por lá. Pelo menos poderei trabalhar sem ser rotulada 'estrangeira' e meu filho menos doente...
    Boa sorte por aqui!

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Obrigada por me "ouvir"